Em poucas palavras, storytelling é a arte de contar histórias. A forma como as frases e parágrafos são construídos e o conteúdo trabalhado encantam quem lê. A sensação é que a cada página a vontade de continuar a leitura aumenta. Os leitores ávidos conhecem muito bem essa sensação. E empregá-la em conteúdos para aumentar as vendas é uma excelente estratégia.
Vários personagens literários tornaram-se inspiração de muita gente. Um exemplo claro (e mágico) é Harry Potter. A saga fez parte da vida de milhares de jovens e até os dias atuais continua fazendo sucesso com as mesmas pessoas e agora com os filhos delas. Outro personagem que cresceu junto com uma geração é o Simba, personagem da Disney do filme O Rei Leão. A prova disso é que o trailer do live-action que será lançado em 18 de julho de 2019 já chegou quebrando recordes. Em menos de 24 horas tornou-se o mais visto com 224.6 milhões de acessos!
E sabe motivo de tanto o sucesso de Harry Potter e do O Rei Leão? Ambos contam a jornada do herói. E sobre isso que falarei hoje. Você entenderá o que é essa jornada e irá aprender como criar uma para seu clientes. Vamos lá?
To our entire pride: Thank you for helping the teaser trailer for #TheLionKing become the most-viewed Disney trailer debut ever as it reached a record-breaking 224.6 million global views in 24 hours! pic.twitter.com/0kDUDGHzfx— Walt Disney Studios (@DisneyStudios) 24 de novembro de 2018
Ainda não viu o trailer? Então dá o play:
Novo trailer:
O que é a jornada do herói?
A jornada do herói é uma das maneiras de aplicar a técnica de storytelling. Se você ainda tem dúvidas sobre a técnica, eu já expliquei em outro artigo, para ver, clica aqui.
Todo ser humano tem o poder de contar uma história. Pode ser sobre algo que aconteceu com ela ou até mesmo inventar uma narrativa surpreendente. Seja o que for, histórias cativam. Histórias mexem. Histórias passam sentimentos para quem ouve ou lê. Criar um cenário, um contexto ou até mostrar um personagem gera vida. É muito mais fácil observar e se lembrar quando você imagina uma cena acontecendo.
Quais eram seus heróis preferidos na infância? E hoje? Quem são suas fontes de inspiração? Quem você segue no Instagram? Essas pessoas são seus heróis na atualidade. Você se identifica com elas, cativam de uma forma que faz você gostar e confiar nelas. É bem provável que essas pessoas tenham passado pelas mesmas coisas que você. Ou ainda que conquistaram objetivos semelhantes ao seu.
Geralmente, os heróis passam por uma série de coisas até conquistar o seu objetivo final. Enfrentam muitos problemas. E olha só mais uma coincidência com a sua vida: você também tem problemas!
Mostrar para sua audiência que o seu herói é “gente como a gente” constrói uma aproximação com o público, que confiará cada vez mais. Afinal, ele também quer ser aquele herói.
Usar a jornada do herói em seu storytelling é exatamente isso: mostrar que todo herói passa por problemas. Todo herói precisa enfrentar seus medos e arriscar. Até chegar lá (e não importa onde o “lá” fique). Esse estilo de história é considerada um “monomito”. O termo foi criado por Joseph Campbell e significa que é uma mesma estrutura pode ser usada para construir vários “mitos” (histórias).
No começo do texto citei o Simba, personagem do filme O Rei Leão. Você sabia que ele é um herói nato? E para provar, usarei esse exemplo para que você aprenda a construir o seu próprio storytelling usando a jornada do herói. Lembrando que não há uma receita para construir sua história. Essa é uma análise feita por mim, pode haver na internet análises um pouco diferentes dessa.
Antes de continuar, é importante avisar (caso você ainda não tenha assistido ao filme) que haverá spoilers!
1 – Apresentação do herói ou Mundo comum
Esse é o ponto de partida de toda história. O público precisa conhecer o personagem central, o herói. Note que em filmes, séries e livros é normal o autor começar introduzindo o conteúdo apresentando alguém. No filme O Rei Leão essa etapa fica muito clara quando Rafiki apresenta Simba ao restante dos animais.
Durante esse momento a audiência conhece o mundo em que o personagem central vive, o “mundo comum”. Identifica os personagens próximos, os vilões e até mesmo uma paixão amorosa. É possível até identificar os pontos fortes e fracos do herói.
Nos minutos seguintes o público também conhece o “mundo comum” de Simba. O local que ele vive, seus pais, sua melhor amiga Nala. Tudo isso faz parte da apresentação do herói, fazendo com que a audiência sinta-se ligada de uma forma com o personagem central.
2 – O chamado da aventura (problema ou desafio)
Todo herói passa por uma jornada. É nesse momento que ele se depara com um grande desafio que ele poderá ou não enfrentar. Em O Rei Leão, existe um chamado para a aventura, ou seja, o nosso herói Simba observa tudo o que um dia poderá ser dele. Nesse momento, seu pai Mufasa o convida para assumir o trono após sua partida.
Ser o rei é uma grande responsabilidade, não é mesmo? Simba sentiu isso e, sendo apenas um filhote, teve medo desse momento chegar. As cenas a seguir são emocionantes e, se você não chorou, deve ter segurado muito bem as lágrimas. Após esse momento de pai e filho, Mufasa é assassinado por Scar, tio de Simba.
E é exatamente esse medo que nos leva a terceira fase da jornada do herói: a recusa do chamado.
3 – Recusa do chamado
Toda aventura causa um frio na barriga. É normal sentir medo do desconhecido e é isso que o Simba sentiu. Além do medo, ele não se sentia capaz de governar como o pai havia feito. O pobre leãozinho também se sentia culpado pela morte do pai e todo esse turbilhão de sentimentos o faz fugir.
Em sua fuga da aventura, Simba conhece 2 figuras que tornam-se grandes mentores: Timão e Pumba. Ao decorrer da história, o pequeno leãozinho cresce e torna-se um leão adulto. Ele ainda tem sentimentos sobre o seu passado, sobre o que ele deixou para trás. Mas vive bem com seus novos amigos.
4 – Encontro com o mentor
Um mentor é aquele que ajuda alguém a se levantar e conquistar seus objetivos e sonhos. Você pode até não saber, mas deve ter um mentor pelo qual você sempre pede apoio e procura coragem para prosseguir. Todo herói precisa dessa figura que irá contribuir com sua formação e dar continuidade em sua jornada.
Em O Rei Leão, podemos acreditar que não existe um mentor, mas cinco mentores. São eles:
- Timão e Pumba, que o ajudam a sobreviver e crescer;
- Nala, sua amiga de infância que o encoraja a assumir suas responsabilidades;
- Rafiki, amigo e conselheiro de Mufasa;
- Mufasa, o pai de Simba.
A história nos traz outra cena emocionante, o reencontro de Nala e Simba. Se você se lembra do filme, sabe que os dois são amigos de infância. Há também a nítida presença de um sentimento maior entre eles. Nesse reencontro, Nala conta como está o “mundo comum”. Ela fala que depois da morte de Mufasa e a fuga de Simba as coisas saíram dos trilhos, já que quem assumiu o trono de rei da selva foi o tio de Simba (e assassino de Mufasa) Scar. Simba fica abalado, mas os medos de antigamente ainda possuem um espaço em seu coração e mente.
Há outra cena que mostra a mentoria de Simba para atender o chamado de seu pai feito há muito tempo atrás. Ele se encontra com Rafiki, que mostra o espírito do pai nas nuvens. Esse é um momento marcante, um ponto crucial para que o herói volte para enfrentar o seu tio e tomar o que é dele por direito.
5 – Cruzamento do primeiro limiar/ Herói aceita o chamado
Essa fase é uma continuidade da fase anterior. É quando o herói resolve sair da sua zona de conforto e encarar a realidade, buscando novamente o mundo comum em que vivia e, para isso terá que aceitar aquele desafio que havia recusado.
A partir desses acontecimentos e o reencontro com Nala, Rafiki e o espírito de Mufasa, o herói toma a sua decisão e volta para procurar o seu “mundo comum” há muito abandonado. E, para isso terá que enfrentar muitos desafios.
A partir desse ponto acontece o cruzamento do primeiro limiar: o filhote que fugiu dos seus medos para encontrar conforto, um novo “mundo comum”, cresce e retorna às suas origens para assumir o trono do pai. Simba começa a refazer os seus passos, voltando para casa.
6 – Provações, aliados e inimigos ou a Barriga da Baleia
Durante sua aventura, o herói passa por várias provações e percebe que não será capaz de enfrentar tudo sozinho. E é aqui que os aliados são encontrados, geralmente são personagens que querem o mesmo e de fato vão ajudá-lo a conquistar e enfrentar os inimigos.
A principal provação de Simba é a vergonha e a culpa de ter matado o pai. Durante toda sua vida o herói acreditou nisso, até compreender que o verdadeiro culpado pela morte de Mufasa foi Scar.
Os aliados de Simba são nitidamente seus amigos Timão e Pumba, Nala e Rafiki. Os inimigos o tio Scar que assumiu o trono no lugar do sobrinho e suas comparsas, as hienas.
7 – Aproximação da caverna oculta / Provação suprema
Durante o seu retorno para o mundo comum, o herói encontra mentores. Passa por provações. Encontra aliados e descobre quem são seus inimigos. Tudo isso é uma preparação para que ele enfrente a provação suprema, para por fim encontrar a sua recompensa.
Podemos considerar a caverna oculta de Simba como as terras do reino. É esse é o ápice da luta entre o verdadeiro herdeiro e Scar. É um momento do filme carregado de tensão e há a participação das hienas tentando derrotar o nosso herói.
Na jornada do herói essa é a fase mais obscura que ele passa durante sua trajetória. Isso inclui o risco de perder a vida durante a batalha final. Em O Rei Leão esse momento acontece quando Scar joga areia nos olhos de Simba, o que dá a sensação de medo na audiência.
8 – Recompensa/Elixir
Depois de tantas provações, de tanta luta, finalmente o herói encontra sua repensa. Na jornada do herói essa recompensa pode ser algo físico, mental, um relacionamento ou reconhecimento.
Em O Rei Leão, a recompensa para Simba é derrotar Scar e assumir o trono que é seu por direito. A partir desse momento, o herói está de volta ao seu mundo comum. Depois de tudo o que ele passou, está pronto para tomar o seu lugar e viver sua vida novamente, como aquela vida que ele conheceu antes do pai morrer.
Há análises que inclui o clímax da história nesse momento, explicando que o herói tem um novo desafio nesse momento: reinar. Essa passagem é mostrada com todos os campos florescendo novamente, indicando que há vida nova ali e que o mundo comum está volta, porque Simba é um bom rei.
E para finalizar sua jornada do herói, há uma nova recompensa (ou aventura) para Simba: o momento em que a filha de Simba e Nala é apresentada ao reino, deixando claro que há um legado e criando a dúvida sobre o chamado que a pequena terá.
Jornada do herói: mão na massa
Se você já procurou sobre a jornada do herói, pode ter notado algumas diferenças na ordem cronológica. Isso acontece porque não existe uma receita para aplicar o storytelling. Sendo assim, as análises são diferentes, podendo pular ou mudar a ordem de algum fator. No entanto, há um princípio a ser seguido:
Apresentação
Todo começo de história precisa de uma apresentação. Sem isso, a audiência não terá condições de se sentir atraída pelo o que irá ler/assistir/ouvir.
Desafios e desenrolar
A melhor definição para o que acontece depois da apresentação e antes do fim: o desenrolar. Sempre acontece alguma coisa que interfere no “mundo comum” a partir daí, o herói passa por desafios que o levarão para a etapa final.
Provação e recompensa
Toda história tem uma provação suprema. Podendo encarar a morte, descer ao fundo do poço ou qualquer outra situação que traga tensão, o clímax da história. Vencida essa etapa, o herói alcança a tão sonhada recompensa.
Para finalizar, deixo o convite: assista mais séries. Veja mais filmes. Leia mais livros. E observe a jornada do herói. Você perceberá que todas histórias seguem a linha da “apresentação, desafios e desenrolar, provação e recompensa”. A arte de contar histórias é bela e não somente para entretenimento. Também pode ser usada para gerar vendas, aumentar engajamento e tornar uma marca mais conhecida no mercado.